Peças escuras: metáfora da vida em xadrez







'Cause it's time,
it's time in time with your time
and it's news is captured
for the queen to use.
Move me on to any black square.

(Jon Anderson and Chris Squire)





A vida é uma partida de xadrez que não começa em pé de igualdade. Os jogadores sempre estão ou são diferentes. Extrapola o jogo da vida em que até superstições acerca das cores determinam estratégias preconcebidas. O conflito é a única certeza, além daquele tipo que sempre está atrás das peças escuras.


No tabuleiro, quase todas as peças parecem cordeiros a capturar ou capitular. Exceto a estranha rainha. Ela é expansiva em todas as direções. A dama é o lobo do rei. Como, protegido por cordeiros sutilmente diferenciados, acha que poderá sobreviver à rainha ou à sua ausência? Das duas formas, vossa majestade, o rei, estará frágil até o xeque.


Frágil, não morto. Ao rei sempre resta movimentos parcos em seu lado negro. Permanece sendo ouvido por seus aliados. É nessa hora que inicia seu “caminho determinado e forte para o canto”. Como se pudesse estar na torre a dar ordens para resistir aos rápidos movimentos da rainha branca.


Esse rei é limitado e sábio. Nele está depositada toda a identidade de seu exército de marionetas. Entende perfeitamente cada um deles. Sabe que sempre há uma chance de resistir e que ele mesmo é o motivo em si para isso. A cada jogada da resistência, então, descobre-se um novo mundo de possibilidades, incluída aí a mínima chance do milagre, a ressureição da rainha negra conquistada pela jornada suicida do peão.


Manter-se vivo, guardar toda a identidade e refletir sobre o desenlace do conflito inerente são as prioridades reais. É imprudente cercar-se apenas de si mesmo. Os aliados sempre estão em sacrifício. O rei é o próprio coletivo. Apesar de profundo conhecedor das múltiplas faces das mudanças, determina quem enfrentará as piores circunstâncias. A alteza reativa não espera pelo milagre. É simplesmente realista não ser vitimado. Não antes do rei branco que iniciou o jogo de seu pólo frio.






Ps – post escrito ao som do clássico “I’ve seen all good people”, lançado no “The Yes Album”, 1971.


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Comentários

  1. Nada de rei, peão, ou cavalo, até mesmo rainha sabem de si mesmos, caro escritor. O bispo nunca rezou, pode apostar, mas humanos tem fé; isso, caro amigo, a gente pode escolher onde investe. Talvez por isso que o peão que alcança a base pode resgatar a rainha, embora o melhor do jogo resida em perde-la e se testar mais sólido que a resina das peças.

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  2. Escolher sobre a fé ainda não é um ato, no meu ponto de vista, possível em nosso grau de perícia nesse jogo de estratégia e lógica. Mas entendi a essência de seu comentário e a profunda relação dele com uma possibilidade de milagre: transcender as habituais regras de confinamento no jogo da vida.

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  3. A rainha no xadrez - seria Lady Macbeth?? kkkk

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    1. Patrícia, chegou perto. Mas desde ''O monstro de olhos verdes" que tudo tende mais para Otelo.

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    2. O rei branco comanda o exército do Destino. Nós sempre jogamos de negras, na desvantagem do segundo lance. Jogamos para pelo menos empatar. As brancas são fortíssimas, sempre cheias de recursos. Caso não optem por um 'tudo ou nada' , o reis desde cedo são encastelados e afastados do convívio da rainha. Dali só sairão para a batalha final com seus antagonistas de cores opostas.

      Os humildes peões simbolizam o trabalho duro e paciente. É preciso paciência e bom jogo constante, pois o adversário é fortíssimo. Os peões também simbolizam o planejamento a longo prazo, sem pressa por resultados rápidos e mirabolantes, como sacrifícios e mates relâmpagos. São eles que geralmente garantem a vitória no final. Parece que todas as outras peças - inclusive a rainha - já sabem que se sacrificarão não pelo rei, mas pelos peões e suas formações vitoriosas. Após a carnificina só restarão eles e seus reis.

      Estes sim, os peões, são a alma do jogo. Cuide bem deles, do que eles representam, e haverá alguma chance de vitória, com ou sem promoção na última casa.

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