O silêncio dos ingratos





Ingratidão é uma forma de fraqueza.
Goethe



Finalmente calou-se. Justamente numa das poucas vezes que deveria falar. Ao menos para agradecer aos brasileiros pelos mais de 58 milhões de apoios recebidos. Mas quem escolhe silenciar durante quase dois dias, quando devia agradecer, encontra justificativas e conspira até esgotar todas as suas razões. Esse perfil de pessoa "belicosa", que já remete ao material do meio militar, tem uma característica marcante: orgulho que não cede. Ceder é perder. Na cabeça dessas pessoas, não existe reconhecer algo diferente de vitória porque aprenderam que na derrota se morre. É uma mentalidade infantilizada, mas que aparenta a força de um adulto. Sabemos, todavia, que o mundo adulto não é da força. É da inteligência e diplomacia.

Alguém já viu uma criança agradecer aos pais tudo que recebe diariamente depois de ter sido forçada a escovar os dentes? É o mesmo fenômeno.  Não adianta esperar qualquer demonstração de gratidão de pessoas assim. E elas estão por toda parte, todos nós conhecemos. Nada mais importa depois que são contrariadas. Vão se afastar, silenciar e conspirar... se não puderem lhe agredir. São eternas vítimas. Reconhecer e dialogar nunca. Pouco importa se é um país que está em jogo.

Pessoas assim são perigosas pois podem conduzir eventos simples para uma catástrofe. É o que no meio militar chama-se de "vitória de Pirro". A birra segue à custa de tudo. Inclusive dos que ajudaram na caminhada. Os que estiveram na linha de frente costumam ser os primeiros sacrificados pela irracionalidade. Quando não há gratidão, há traição. Se vê o valor de uma pessoa quando ela nutre uma postura nobre justamente num momento difícil. Ser grato na vitória é só “gratiluz”.

Exatamente por entender a gravidade disso, Dante, o Alighieri, no seu livro que descreve o inferno, reservou o círculo mais profundo para o indivíduo traidor ingrato. Esse tipo entende que tudo foi seu mérito, nada foi concedido. Nunca há o que agradecer. A única forma de reduzir danos é afastá-lo de qualquer zona de influência e retirar seus brinquedinhos de poder. Cuidando apenas para que ele não use seus demônios para pôr abaixo todo o parquinho Brasil antes de ir, de vez, para o quinto dos infernos.






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