A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem adiciona valor e gera emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas, como pesquisou a Oxfam¹.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo. Mas o Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre buracos. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse à cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento das cidades.
Trecho do artigo "Pobres dos nossos ricos", com adaptações, escrito pelo português Mia Couto.
1- sobre a pesquisa da Oxfam:
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